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NADA – NADA DE INTERESSANTE

Atualizado: 1 de abr. de 2020

Às vezes sentimos um vazio dentro de nós, como se algo faltasse. O romance de estreia de Carmen Laforet, por mais que tente mostrar o vazio da cidade de Barcelona após a guerra, não nos completa.


Recém-chegada em Barcelona, Andrea deve aprender a conviver com os familiares que a abrigam, ao mesmo tempo que aprende a viver. Viver a vida da cidade grande se mostra complicado para nossa protagonista acostumada com o interior.


A religiosa e conservadora Angustias tenta impor algumas regras e controlar o dinheiro da sobrinha. Román, o tio artista, provoca todos os sentimentos possíveis em Andrea, desde a curiosidade e fascínio, até a raiva e o nojo. O tio desempregado, Juan, desconta uma raiva incontrolável em todos os moradores do apartamento, principalmente em sua esposa, Gloria. Sua avó, com a idade já avançada, se mostra conformada com a situação familiar. E, Antonia, a cozinheira, se mostra sádica ao assistir o drama sempre “cutucando” em algum lugar. Fora de casa, Andrea se depara com amizades superficiais, sempre com outros interesses. No final, até mesmo por aquela que chama de sua amiga mais próxima, Ena, Andrea se vê usada.

Ao longo da narrativa, Andrea, que, nas primeiras páginas, se mostrara forte e resistente, questionadora e desafiadora, se torna apática, e lentamente se transforma em nada. Os personagens do núcleo familiar são superficiais, coisa que se repete com o núcleo universitário (que, na verdade, aparece muito pouco). Laforet, que poderia aprofundar seus personagens, perde-se na tentativa de focar em muitas coisas ao mesmo tempo. Nisso, a depressão de nossa personagem se faz apenas presente quase no final; a relação abusiva de Juan e Gloria se torna repetitiva e previsível. Em uma tentativa falha de reviravolta, o passado de Róman aparece sem complementar em nada o personagem.

Carmen Laforet nos apresenta um livro que se passa após a guerra franquista, em um período de pobreza e angustias, coisas que percebemos nos espíritos dos personagens. Todavia, a relação entre esse cenário espanhol e os sentimentos apresentados não é nítido fora do apartamento. Apresentados como uma família rica em decadência, a pobreza material e psicológica se limita às suas roupas e a fome que passam. Todas relações externas são abastadas, causando uma falsa imagem de vítima em Andrea. A menina que se envergonha da casa em que vive e das roupas velhas que usa, decide não ajudar a família com o dinheiro de sua pensão, mas ao mesmo tempo, se aproveita dos luxos de seus colegas.


A escritora espanhola nos entrega um livro cheio de personagens confusos e superficiais.


Carmen Laforet 6 de setembro de 1921 - 28 de fevereiro de 2004


Nascida em Barcelona, na Catalunha, mas criada em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, retorna à sua cidade natal após a Guerra Civil Espanhola para estudar Filosofia e Letras. Em 1942, com o curso incompleto, muda-se para Madri, onde cursaria Direito, que também não concluiu. No início de 1944 começa a escrever Nada. Publicou outros romances como La mujer nueva, La insolación e vários contos e relatos de viagens. Teve uma conturbada relação com a fama e a vida social. Viveu fora da Espanha, mas morreu em Madri. Teve a continuação de la insolacíon, Al volver la esquina,publicado postumamente.




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