
RESSACA LITERÁRIA: fenômeno que ocorre aos leitores quando tentam começar um novo livro, enquanto não saíram do universo do anterior.
Nesta incrível edição especial da TAG Experiências Literárias, temos duas estórias do escritor suíço Friedrich Dürrenmatt. “A Promessa” e “A Pane”.
A PROMESSA
Friedrich Dürrenmatt mostra em uma maravilhosa narrativa como a obsessão, a culpa, a irresponsabilidade social e a decadência da moral, junto com a linha tênue entre justiça e punição, podem acabar com a lucidez de um homem. Narrado em primeira pessoa por dois personagens distintos, a trama gira em torno do relato do policial ao escritor sobre um antigo caso da polícia, o qual, durante muito tempo, ficou sem solução, levando o comissário de polícia Matthäi a um estado catatônico por não conseguir achar o assassino de uma garotinha.
Com um final totalmente inesperado, até mesmo aos devoradores deste gênero, o sentimento que sobra depois do ponto final é o de frustração.
Em sua apresentação, a TAG define A Promessa como “uma crítica ao universo dos romances policiais e suas soluções lógicas e pouco verossímeis.” “Embora seus livros anteriores apresentem de maneira mais explícitas as características desse gênero consagrado por autores como Agatha Christie, Georges Simenon e Sir Arthur Conan Doyle, A promessa tende a nos levar na direção oposta (...).”
A PANE
A segunda parte do livro nos leva a uma noite excepcional.
Durante uma viagem a trabalho, o carro de Alfredo Traps sofre uma pane, forçando-o a passar a noite na casa de um morador local. Seu anfitrião, um juiz aposentado, o convida para jantar com seus amigos (um ex-promotor, um ex-advogado de defesa e um ex-carrasco) e participar de um jogo costumeiro do grupo: um julgamento simulado, afim de relembrar suas profissões.
No papel de réu, Traps passa por um interrogatório tão longo quanto o jantar, e faz reflexões profundas sobre situações de sua vida nunca antes levadas tão a sério.
Em seu conto tragicômico e uma narrativa (típica) de tirar o fôlego, Dürrenmatt traz a moral como ponto central, podendo ser considerada a personagem principal, sem mesmo ser chamada em cena.
E são por essas razões que Friedrich Dürrenmatt me deixou de ressaca literária.

Friedrich Dürrenmatt (5 de janeiro de 1921 — 14 de dezembro de 1990)
Autor e dramaturgo suíço, influenciado pelas recentes experiências da Segunda Guerra Mundial. Deve a maior parte de sua fama a seus dramas vanguardistas, romances policiais e sátiras macabras.
Deu início aos estudos de filosofia, idioma e literatura alemã na Universidade de Zurique em 1941, mas deixou-os após somente um semestre, migrando para a Universidade de Berna. Em 1943 desistiu da vida acadêmica e parrou a se dedicar à escrita. A pintura também se fazia presente em suas obras. Desenhou muitos quadros referentes às suas peças teatrais.
"Uma história não está terminada até que algo tenha dado extremamente errado", em suas palavras.
